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terça-feira, 15 de outubro de 2013

"Policiais" liberaram droga e traficante por R$ 100 mil, indicam escutas

 Criminoso teria sido abordado por policiais de Santo André.
Megainvestigação do Ministério Público denunciou à Justiça 175 pessoas.
 
ARTE PCC 300 (longa) - 15/10 (Foto: Editoria de Arte / G1)
 
Escutas da megainvestigação feita pelo Ministério Público de São Paulo sobre a facção que age dentro e fora dos presídios indicam que um traficante subornou policiais do 4º Distrito Policial de Santo André, na Grande São Paulo para ser liberado.

Ele afirma na conversa que foi surpreendido pelos policiais no local onde guardava droga e que teria de pagar R$ 100 mil para ser liberado. Juntamente com ele e a droga apreendida,a mulher e seu filho teriam sido levados também pelos policiais.

“Tô na mão dos pessoal (polícia) aqui”, afirma o bandido. Já o preso com que ele conversa e que seria uma das lideranças da facção pergunta se “tem ideia”, o que seria uma chance de acerto com os policiais. A resposta é afirmativa. “De 200 (mil reais), caiu pra 100. E é o seguinte: não quis abaixar mais não”, respondeu o bandido.

O criminoso informou em outra ligação que o acerto foi feito e que ele levaria a droga apreendida.
 
A gravação é do dia 5 de fevereiro de 2011. Trata-se de um dos áudios obtidos após três anos de investigações do MP sobre a quadrilha. A Secretaria da Segurança Pública deve receber nesta terça (15) os arquivos para investigar e punir os policiais envolvidos, conforme anunciou o governador Geraldo Alckmin na segunda-feira (14).

A conclusão da investigação é que a facção controla 90% dos presídios de São Paulo. No mês passado, os promotores denunciaram 175 acusados à Justiça e pediram o isolamento dos 35 principais chefes do bando no Regime Disciplinar Diferenciado (RDD). Os pedidos foram negados e o Ministério Público entrou com recurso.

Churrasco

 As escutas feitas pelo Ministério Público de São Paulo com autorização da Justiça revelam o método usado pela facção criminosa que atua dentro e fora dos presídios paulistas para esconder reuniões da quadrilha. Em um dos grampos telefônicos obtidos pelo G1, criminosos planejaram churrasco com mulheres para diminuir o risco de um eventual confronto com policiais militares. Os churrascos ocorreram.

Em uma das centenas de escutas, realizada desta vez em março de 2012, dois homens  em liberdade combinaram a realização de uma festa para ocultar uma reunião criminosa. Os homens temiam ser traídos por algum comparsa e queriam a participação de várias outras pessoas no churrasco para evitar um possível confronto.

"O dia que nós formos fazer essa caminhada (reunião), vamos acionar a churrasqueira, colocar umas meninas para ficar nadando, uma carnes lá. Porque se porventura nós formos traídos, e os caras imbicarem na caminhada (a polícia invadir o festa), nós não vamos morrer truta, porque tem zé povinho, tem mulher tal, porque senão os caras matam nós todos", diz um criminoso.

"Os caras matam nós todos e joga armas lá dentro do barato lá, e falam que nós somos tudo integrantes, tudo com passagem e ripa nós (matam). Agora pelo menos com churrasco e um monte de mulher aí eles não vão fazer isso mano. Eu falei essa hipótese de alguma traição, entendeu amigo, alguma caminhada que já passou. A gente tem que pensar em todos os ângulos. Não pode pensar que está tudo bem. Não é porque a superficie está calma que não esteja acontecendo nada nas profundezas", completou o integrante da facção..

Um homem diz que a polícia tem intensificado ações contra a quadrilha e cita “o governador”, que estaria incentivando o endurecimento das ações policiais. "Os caras estão pegando de verdade na capital, sabe por quê? Estão tendo o aval do governador, truta. É poucas ideias os caras é o seguinte, estava lendo na reportagem ontem, os caras tiraram a Civil do comando do crime organizado porque estava tendo muito acerto, várias caminhadas os caras tiraram a civil e colocou esses caras aí em cima de nós, entendeu."

Policiais mortos

 Investigações do Ministério Público indicam que a causa da  onda de violência de 2012 na região metropolitana de São Paulo foi desencadeada por uma operação da Rota, a tropa de elite da Polícia Militar. Em 28 de maio do ano passado, policiais das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar mataram seis suspeitos de pertencerem a uma facção que se reuniam no estacionamento de um bar na favela Tiquatira, na região da Penha, Zona Leste. Em junho, como represália, 11 policiais foram assassinados. Segundo a PM, naquela noite de maio os criminosos, que planejavam a libertação de um comparsa preso, foram surpreendidos pela Rota e reagiram à abordagem. Todos os seis morreram na troca de tiros. Para a facção que atua dentro e fora dos presídios paulistas, porém, a operação policial foi “covarde”.

Uma testemunha denunciou que os policiais levaram um dos suspeitos até a Rodovia Ayrton Senna e o executaram lá. Essa denúncia levou três agentes da Rota ao Presídio Romão Gomes, que abriga PMs envolvidos em crimes. Para promotores ouvidos pelo G1 à época, aquela ação foi o estopim para criminosos da facção, em busca de vingança, passarem a executar policiais militares. A Polícia Civil e a PM, por meio de sua Corregedoria, além da Ouvidoria das Polícias, através de denúncias anônimas, também apuram essa suspeita. Dos 90 PMs mortos desde o início do ano até novembro, 62 foram assassinados depois do ocorrido na Zona Leste.

Segundo interceptações telefônicas, a informação da execução de um suspeito revoltou a facção. Em 8 de agosto de 2012, as lideranças resolveram intensificar a resposta nas ruas contra a ação da Rota e ordenaram os assassinatos de PMs. O "salve geral", como é chamada a ordem enviada pelos criminosos, determinava a morte de dois policiais militares para cada integrante da facção que fosse morto. As execuções passaram a ser feitas por criminosos que não conseguem pagar a mensalidade da quadrilha.

Organograma

 A reunião presencial da facção, combinada em março de 2012, era necessária para estabelecer, por meio de desenhos, o organograma da organização criminosa em uma determinada região do estado. O encontro, supostamente em uma chácara, seria ponto de partida para os criminosos seguirem para dois outros endereços nos quais os criminosos transmitiriam ordens a subordinados.

"Esse que é o problema. Eu preciso montar as equipes entendeu, tudo certinho e direcionar. Eu vou levar um cronograma aí para colocar, para mostrar para eles que eles, tá ligado irmão, tem que desenhar a caminhada para ter entendimento", diz o criminoso gravado nas escutas.

Força-tarefa

 No fim da manhã desta segunda-feira, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), e o secretário da Segurança Pública, Fernando Grella Vieira, participaram de reunião com o secretário da Administração Penitenciária, Lourival Gomes, o comandante da PM, coronel Benedito Meira, e o delegado-geral da Polícia Civil, Maurício Blazeck.

Ao sair do encontro, o governador anunciou a criação de uma força-tarefa com representantes das pastas e das polícias cujo objetivo é obter informações de inteligência para facilitar o combate ao crime organizado.

Alckmin também afirmou que em dezembro devem começar a ser instalados, em 23 unidades prisionais do estado, bloqueadores de celulares. Segundo o tucano, os antigos equipamentos eram ineficientes. “Nunca se teve tecnologia adequada. Ou não bloqueava ou bloqueava [os celulares] de todo o bairro.”

fonte: g1.globo.com

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