Criminoso teria sido abordado por policiais de Santo André.
Megainvestigação do Ministério Público denunciou à Justiça 175 pessoas.
Megainvestigação do Ministério Público denunciou à Justiça 175 pessoas.
Ele afirma na conversa que foi surpreendido pelos policiais no local onde guardava droga e que teria de pagar R$ 100 mil para ser liberado. Juntamente com ele e a droga apreendida,a mulher e seu filho teriam sido levados também pelos policiais.
“Tô na mão dos pessoal (polícia) aqui”, afirma o bandido. Já o preso com que ele conversa e que seria uma das lideranças da facção pergunta se “tem ideia”, o que seria uma chance de acerto com os policiais. A resposta é afirmativa. “De 200 (mil reais), caiu pra 100. E é o seguinte: não quis abaixar mais não”, respondeu o bandido.
O criminoso informou em outra ligação que o acerto foi feito e que ele levaria a droga apreendida.
A conclusão da investigação é que a facção controla 90% dos presídios de São Paulo. No mês passado, os promotores denunciaram 175 acusados à Justiça e pediram o isolamento dos 35 principais chefes do bando no Regime Disciplinar Diferenciado (RDD). Os pedidos foram negados e o Ministério Público entrou com recurso.
Churrasco
As escutas feitas pelo Ministério Público de São Paulo com autorização da Justiça revelam o método usado pela facção criminosa que atua dentro e fora dos presídios paulistas para esconder reuniões da quadrilha. Em um dos grampos telefônicos obtidos pelo G1, criminosos planejaram churrasco com mulheres para diminuir o risco de um eventual confronto com policiais militares. Os churrascos ocorreram.
Em uma das centenas de escutas, realizada desta vez em março de 2012, dois homens em liberdade combinaram a realização de uma festa para ocultar uma reunião criminosa. Os homens temiam ser traídos por algum comparsa e queriam a participação de várias outras pessoas no churrasco para evitar um possível confronto.
"O dia que nós formos fazer essa caminhada (reunião), vamos acionar a churrasqueira, colocar umas meninas para ficar nadando, uma carnes lá. Porque se porventura nós formos traídos, e os caras imbicarem na caminhada (a polícia invadir o festa), nós não vamos morrer truta, porque tem zé povinho, tem mulher tal, porque senão os caras matam nós todos", diz um criminoso.
"Os caras matam nós todos e joga armas lá dentro do barato lá, e falam que nós somos tudo integrantes, tudo com passagem e ripa nós (matam). Agora pelo menos com churrasco e um monte de mulher aí eles não vão fazer isso mano. Eu falei essa hipótese de alguma traição, entendeu amigo, alguma caminhada que já passou. A gente tem que pensar em todos os ângulos. Não pode pensar que está tudo bem. Não é porque a superficie está calma que não esteja acontecendo nada nas profundezas", completou o integrante da facção..
Um homem diz que a polícia tem intensificado ações contra a quadrilha e cita “o governador”, que estaria incentivando o endurecimento das ações policiais. "Os caras estão pegando de verdade na capital, sabe por quê? Estão tendo o aval do governador, truta. É poucas ideias os caras é o seguinte, estava lendo na reportagem ontem, os caras tiraram a Civil do comando do crime organizado porque estava tendo muito acerto, várias caminhadas os caras tiraram a civil e colocou esses caras aí em cima de nós, entendeu."
Policiais mortos
Investigações do Ministério Público indicam que a causa da onda de violência de 2012 na região metropolitana de São Paulo foi desencadeada por uma operação da Rota, a tropa de elite da Polícia Militar. Em 28 de maio do ano passado, policiais das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar mataram seis suspeitos de pertencerem a uma facção que se reuniam no estacionamento de um bar na favela Tiquatira, na região da Penha, Zona Leste. Em junho, como represália, 11 policiais foram assassinados. Segundo a PM, naquela noite de maio os criminosos, que planejavam a libertação de um comparsa preso, foram surpreendidos pela Rota e reagiram à abordagem. Todos os seis morreram na troca de tiros. Para a facção que atua dentro e fora dos presídios paulistas, porém, a operação policial foi “covarde”.
Uma testemunha denunciou que os policiais levaram um dos suspeitos até a Rodovia Ayrton Senna e o executaram lá. Essa denúncia levou três agentes da Rota ao Presídio Romão Gomes, que abriga PMs envolvidos em crimes. Para promotores ouvidos pelo G1 à época, aquela ação foi o estopim para criminosos da facção, em busca de vingança, passarem a executar policiais militares. A Polícia Civil e a PM, por meio de sua Corregedoria, além da Ouvidoria das Polícias, através de denúncias anônimas, também apuram essa suspeita. Dos 90 PMs mortos desde o início do ano até novembro, 62 foram assassinados depois do ocorrido na Zona Leste.
Segundo interceptações telefônicas, a informação da execução de um suspeito revoltou a facção. Em 8 de agosto de 2012, as lideranças resolveram intensificar a resposta nas ruas contra a ação da Rota e ordenaram os assassinatos de PMs. O "salve geral", como é chamada a ordem enviada pelos criminosos, determinava a morte de dois policiais militares para cada integrante da facção que fosse morto. As execuções passaram a ser feitas por criminosos que não conseguem pagar a mensalidade da quadrilha.
Organograma
A reunião presencial da facção, combinada em março de 2012, era necessária para estabelecer, por meio de desenhos, o organograma da organização criminosa em uma determinada região do estado. O encontro, supostamente em uma chácara, seria ponto de partida para os criminosos seguirem para dois outros endereços nos quais os criminosos transmitiriam ordens a subordinados.
"Esse que é o problema. Eu preciso montar as equipes entendeu, tudo certinho e direcionar. Eu vou levar um cronograma aí para colocar, para mostrar para eles que eles, tá ligado irmão, tem que desenhar a caminhada para ter entendimento", diz o criminoso gravado nas escutas.
Força-tarefa
No fim da manhã desta segunda-feira, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), e o secretário da Segurança Pública, Fernando Grella Vieira, participaram de reunião com o secretário da Administração Penitenciária, Lourival Gomes, o comandante da PM, coronel Benedito Meira, e o delegado-geral da Polícia Civil, Maurício Blazeck.
Ao sair do encontro, o governador anunciou a criação de uma força-tarefa com representantes das pastas e das polícias cujo objetivo é obter informações de inteligência para facilitar o combate ao crime organizado.
Alckmin também afirmou que em dezembro devem começar a ser instalados, em 23 unidades prisionais do estado, bloqueadores de celulares. Segundo o tucano, os antigos equipamentos eram ineficientes. “Nunca se teve tecnologia adequada. Ou não bloqueava ou bloqueava [os celulares] de todo o bairro.”
fonte: g1.globo.com
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