Obama dá uma guinada em sua política para o Oriente Médio e decide enviar mais militares ao Iraque. Pode ser o começo do fim para os terroristas do EI
RODRIGO TURRER
Soldados americanos pousam numa base em Taji, no Iraque. Os EUA se retiraram do país em 2011 – mas, desde junho de 2014, enviaram para lá mais de 3 mil militares (Foto: Ayman Oghanna/The New York Times)
"Quando penso que estou fora, eles me puxam de volta para dentro.” A frase de lamento do personagem Michael Corleone, no filme O poderoso chefão 3, por não conseguir escapar das garras da Máfia, bem que poderia ter sido dita pelo presidente americano, Barack Obama. Cada vez que Obama tenta se distanciar da barafunda do Oriente Médio, algum evento puxa os americanos de volta ao atoleiro.
Desta vez, o avanço do grupo fundamentalista ultrarradical Estado Islâmico (EI) sobre cidades iraquianas fez o presidente dos Estados Unidos retroceder em sua estratégia de passividade. Na semana passada, Obama decidiu enviar 450 soldados americanos para treinar e orientar o Exército iraquiano e milícias tribais. Os Estados Unidos também devem aumentar o número de bases americanas no Iraque.
O objetivo é forçar o EI a recuar.
Pode parecer uma ajuda modesta, mas a virada estratégica é relevante. Desde o começo de seu governo, o plano de Obama era se arrancar das areias movediças iraquianas em que os americanos se enfiaram no governo de George W. Bush, em 2003. Cerca de 465 mil pessoas morreram em oito anos de conflito, incluindo cerca de 5 mil soldados americanos. Parecia fácil justificar a saída das tropas dos Estados Unidos do Iraque. A retirada terminou em 2011. A estratégia de Obama era deixar os iraquianos resolver os problemas em seu território. No máximo, dar apoio aéreo e fazer ataques com aviões não tripulados, os drones. Não funcionou.
O vácuo deixado pela retirada dos Estados Unidos permitiu a expansão de grupos como o EI e filiados da al-Qaeda. O EI controla hoje um terço do território iraquiano e metade do sírio. Isso obrigou Obama a rever seus planos. O Exército iraquiano, mesmo com apoio aéreo americano, não consegue enfrentar os radicais. O combate mais vigoroso contra as hostes sunitas do EI é feito por milícias xiitas apoiadas pelo Irã. Desde junho de 2014, mais de 3 mil soldados americanos foram enviados de volta ao Iraque. Agora, serão mais 450. Essa política claudicante de Obama no Oriente Médio e no Iraque e o “incremento do envio de assessores militares” trazem reminiscências do que aconteceu no Vietnã, nos anos 1960. Toda vez que os Estados Unidos tentavam sair da guerra, eram obrigados a aumentar o total de tropas para combater os inimigos comunistas.
Na segunda-feira, dia 8, ao anunciar o envio de tropas ao Iraque, Obama disse que a estratégia estava “incompleta”. Ele foi generoso consigo mesmo. Sua política para a região é um fracasso. As idas e vindas da política externa de Obama na Síria e no Iraque podem ter consequências tão desastrosas quanto a estratégia agressiva de Bush, seu antecessor. Bush manipulou informações e a opinião pública para forçar uma catastrófica intervenção militar americana no Iraque – e, assim, abriu caminho para uma guerra civil. Na Síria, ao contrário, a guerra civil irrompeu devido à ausência de intervenção internacional. “A opção americana de desengajamento não foi uma política neutra e teve efeitos e consequências graves”, afirma Shadi Hamid, especialista em Oriente Médio do Instituto Brookings. “Fazer muito é um erro, mas fazer pouco também.”
A estratégia de Obama, agora, mudou radicalmente. Além de enviar soldados, os Estados Unidos ampliarão o número de bases militares no país. A intenção é fazer centros de treinamento similares ao da base de Taqqaddum, a cerca de 25 quilômetros de Ramadi, capital da estratégica província de Anbar, a maior do país, e sob controle do EI desde 17 de maio. Segundo o Pentágono, as bases vão formar um “corredor” entre a capital Bagdá e Tikrit, na província de Anbar, seguindo para o norte, rumo a Kirkuk e depois Mossul – a segunda maior cidade do Iraque, dominada pelos extremistas há um ano. “Nossa campanha é feita por meio dessas bases, que nos permitirão continuar a incentivar as tropas iraquianas a avançar”, disse o general Martin Dempsey, chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas dos Estados Unidos.
A criação das novas bases deverá forçar o envio de mais soldados para batalhas em terra, uma medida criticada pela opinião pública americana, mas apontada por especialistas como única solução. “Quanto mais perto o Exército americano estiver da ação em terra, maiores as chances de construir uma relação positiva com os sunitas”, afirmou ao jornal New York Times Richard D. Welch, um ex-comandante das Forças Especiais americanas no Iraque. “E essa é a melhor forma de combater o Estado Islâmico.”
As hesitações de Obama e sua opção de se distanciar dos conflitos no Oriente Médio não funcionaram. Partir para o ataque, com atraso, é mais um remendo na estratégia de Obama – mas pode ser a única solução com chance de sucesso no combate ao temível Estado Islâmico.
com adaptações de iamgens
fonte: http://epoca.globo.com/tempo/noticia/2015/06/os-eua-partem-para-o-ataque-contra-o-estado-islamico.html
fotos: google imagens
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