Arma adaptada pelos criminosos pode dar 1.200 tiros por minutos
HUDSON CORRÊA E RAPHAEL GOMIDE
Imagem capturada de vídeo de estande de tiro nos Estados Unidos que mostra o poder do 'kit rajada'. Traficantes do Rio de Janeiro vêm usando a adaptação nos últimos meses contra a polícia fluminense
(Foto: Reprodução/Youtube)
Numa nova estratégia para enfrentar a polícia, traficantes de drogas passaram a usar pistolas adaptadas para dar rajadas de tiros. A frequência dos disparos chega a 1.200 tiros por minuto, ou 20 por segundo. O armamento tem sido empregado em favelas com UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora), onde criminosos atacam com táticas de guerrilha e precisam de uma arma mais curta que o fuzil. “Os bandidos atiram de janelas e portas. Depois fogem pelos becos”, disse o porta-voz das UPPs, Marcelo Corbage. Na noite desta terça-feira (28), o soldado da PM Clayton Fagner Alves Dias, que trabalhava na UPP de Manguinhos, na Zona Norte, foi morto com pelo menos dez tiros quando voltava para a casa na Ilha do Governador. A Delegacia de Homicídios investiga o motivo do crime e se a arma usada foi a pistola de rajada.
De acordo com o comandante do Comando de Operações Especiais (COE), coronel René Alonso, o dispositivo da Glock, popularmente conhecido como “kit rajada”, virou uma “febre” entre os criminosos do Rio de Janeiro. É um acessório leve e prático, que se acopla à arma e permite que a pistola automática se transforme em uma espécie de metralhadora, capaz de poderosas rajadas. Assim, o poder de fogo da arma é potencializado, aumentando substancialmente a frequência de tiros disparados, dando uma vantagem operacional aos bandidos.
O “kit rajada” se assemelha a uma coronha retrátil de fuzil, a ser apoiada no ombro do atirador, e conta com um punho que fica abaixo do cano da arma. Conectado ao cabo da pistola, a novidade tecnológica permite que o usuário dê tiros em série, da mesma maneira que uma metralhadora. O equipamento também possibilita a rápida troca de carregadores de munição, o que aumenta o poder dos traficantes no confronto com policiais. No vídeo ao lado, uma demonstração da pistola adaptada. As imagens foram feitas em um estande de tiros nos Estados Unidos e foram mostradas a ÉPOCA pela polícia do Rio para exemplificar como funciona o "kit rajada".
Segundo o coronel René, o Hospital Central da Polícia Militar tem identificado um considerável aumento do número de PMs atingidos por tiros de baixa velocidade, disparados por armas de calibres menores, como pistolas, em comparação aos fuzis. Segundo ele, parte desse crescimento se deve à rápida disseminação do “kit rajada” em favelas do Rio.
Para o oficial, o emprego do "kit rajada" é também consequência de uma mudança provocada pela dinâmica das UPPs, que forçou os criminosos a optar no dia a dia por armas curtas – como pistolas e revólveres – em vez dos ostensivos fuzis.
Com a pistola transformada em metralhadora, os traficantes mantêm os policiais à distância, em um tiroteio, forçando-os a se abrigar, e conseguem fugir ou ajudar na fuga de um comparsa – com a vantagem de ter uma arma leve. É uma alternativa ao fuzil.
Entre 1º de janeiro e 22 de abril, a Polícia Militar apreendeu 125 fuzis no Rio de Janeiro, 35 deles AK-47. O automático Kalashnikov modelo 1947 é considerado a arma mais letal do mundo. Estima-se que 250 mil pessoas sejam mortas por ano, nos mais diversos conflitos ao redor do planeta, por um AK-47, sigla pela qual o fuzil de fabricação russa é internacionalmente conhecido. Pesa menos de 4 quilos, tem alcance de 400 metros e, nas mãos de um atirador hábil, pode disparar até 600 tiros por minuto.
FONTE: http://epoca.globo.com/tempo/noticia/2015/04/trafico-adota-pistola-de-rajada-nas-favelas-cariocas.html
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